Artigo: O turismo e os eventos médicos: uma equação necessária para a baixa temporada
Artigo: O turismo e os eventos médicos: uma equação necessária para a baixa temporada
ARTE/JC
Toni Sando As férias de julho chegaram ao final e com isso vem uma preocupação para os destinos turísticos: como será o desempenho nos meses de baixa temporada? Apesar de termos recebido boas notícias nos últimos dias, como a de que o Brasil recepcionou 3.597.239 turistas internacionais no 1º semestre de 2024, número 9,7% superior em comparação ao mesmo período de 2023 e 1,9% acima do registrado em 2019, segundo o Ministério do Turismo, é preciso focar no que está por vir. O momento é bastante propício para retomarmos um assunto delicado e de extrema relevância: a realização de eventos médicos em destinos turísticos.A proibição da realização de eventos científicos e educacionais em destinos turísticos e resorts, por meio do Código de Conduta da Interfarma, entidade que representa a indústria farmacêutica no País, gera muitos impactos ao setor. Isso porque os congressos das sociedades médicas precisam de patrocínio e as fabricantes de medicamentos são “personagens” fundamentais para que tais eventos aconteçam.O assunto é tão relevante que mereceu um capítulo inteiro no Código: “Eventos organizados pela empresa ou por terceiros”, onde está explícito o veto que tem como objetivo impedir que o apelo turístico do local escolhido se sobreponha ao caráter científico ou educacional do evento. No entanto, precisamos debater a questão de forma mais ampla, uma vez que essa proibição implica em um enorme impacto econômico ao turismo. Bonito, Gramado, Ilhabela, Porto de Galinhas e Praia do Forte são alguns dos destinos brasileiros que dependem muito do fluxo de visitantes para sua subsistência. Se olharmos apenas para Gramado, que apesar de não ter tido estragos que impedissem o recebimento de turistas, os viu cancelando a viagem por generalizarem os impactos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, o quanto o turismo médico poderia contribuir para salvar a atividade turística. Mas, olhando para o mapa brasileiro de forma abrangente, não se pode negar que os eventos médicos realizados na baixa temporada equilibram a ocupação e favorecem o orçamento. Sem eles, entram em cena as demissões de profissionais, as economias locais são fortemente afetadas e a qualidade de vida local é altamente afetada.Abrindo ainda mais a cortina, nos deparamos com a realidade brasileira em que as conexões aéreas, a acessibilidade e as instalações para convenções e hospedagem em locais sem apelo turístico são escassas. Vale lembrar que para se realizar eventos, sobretudo de médio e grande portes, é fundamental termos centros de convenções de tamanho suficiente para acomodar salas plenárias simultâneas, espaço para exposição de trabalhos científicos e mostra de produtos e serviços, além de toda a infraestrutura de internet, meios de hospedagens para os congressistas, expositores e a cadeia de serviços, que envolve montadores, recepcionistas, pessoal que atua na limpeza e na operação do audiovisual.Ainda é relevante destacar que os eventos desempenham um papel fundamental no aprimoramento profissional dos médicos. Participar de conferências, simpósios e congressos garante aprendizagem, atualização, absorção de informações e troca de experiências. Mas e o profissionalismo e a ética? Em nossa visão, não são afetados pelo local onde o evento é realizado.Importante também considerar o aprimoramento dos profissionais de saúde residentes nas regiões turísticas, como estudantes e recém-formados, que nem sempre podem se deslocar para participar de eventos em outros estados. Diante disso, podemos afirmar com convicção que essa proibição aprofunda a disparidade de oportunidades.Em vez de proibir, propomos uma reflexão e uma nova forma de abordagem do tema. Isso permitiria que esses eventos fossem conduzidos sempre de maneira ética, transparente e educacional, garantindo o atendimento aos interesses de todas as partes envolvidas. E cabe às organizações de Visitors e Conventions Bureaus mobilizar os fornecedores locais para atender às necessidades de conforto e qualidade no recebimento dos participantes.O debate é complexo, mas muito necessário. Respeitamos o código que naturalmente foi debatido visando manter o alto padrão ético na interação entre a indústria farmacêutica e os profissionais de saúde, mas é igualmente crucial considerar o impacto econômico em um destino, a promoção do conhecimento e a responsabilidade das sociedades médicas.É fundamental que haja um diálogo contínuo para encontrar soluções que atendam aos interesses comuns e promovam o avanço da medicina no Brasil. Por isso, o melhor caminho a ser percorrido é o da busca do equilíbrio, considerando garantir a saúde do paciente e a sustentabilidade do setor farmacêutico. O conhecimento médico beneficia a sociedade como um todo e o turismo deve ser olhado como um aliado, pois é perfeitamente possível realizar congressos médicos de forma ética e responsável em cidades com belos cartões postais.Presidente da União dos Conventions & Visitors Bureaus e Entidades de Destinos (Unedestinos) e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.